terça-feira, 15 de junho de 2010

O Amor e a Loucura


Em tempos atrás viviam duas crianças, um menino e uma menina,
que tinham entre quatro e cinco anos de idade.
O menino chamava-se Amor e a Menina Loucura.

O Amor sempre foi uma criança calma, doce e compreensiva.
Já Loucura era muito emotiva, passional e impulsiva, enfim,
do tipo que jamais levava desaforo para casa.

Entretanto com todas as diferenças as crianças cresciam
juntas, inseparáveis; brincando, brigando... Mas houve
um dia em que o Amor não estava muito bem, e acabou
cedendo às provocações de Loucura, com a qual teve uma
discussão muito feia.

Ela não deixava nada barato, estava furiosa como nunca
com o Amor, começou a agredi-lo, mas não só verbalmente
como de costume. A menina estava tão descontrolada que
agrediu o garoto fisicamente e, antes que pudesse perceber,
arrancou os olhos do Amor.

O Amor sem saber o que fazer, chorando foi contar à sua
mãe, a deusa Afrodite, o que havia ocorrido.
Inconsolada, Afrodite implorou à Zeus que ajudasse seu
filho e que castigasse, Loucura. Zeus, por sua vez,
ordenou que chamassem a garota para uma séria conversa.

Ao ser interrogada a menina respondeu como se estivesse
com a razão que o Amor havia lhe aborrecido e que foi
merecido tudo o que aconteceu. Embora soubesse que não
fora justa com seu amigo, a menina que nunca soube se
desculpar concluiu dizendo que a culpa havia sido do
Amor e que não estava nem um pouco arrependida.

Zeus, perplexo com a aparente frieza daquela criança disse
que nada poderia fazer para devolver a visão do Amor, mas,
ordenou que Loucura estaria condenada a guiá-lo por toda a
eternidade estando sempre junto ao Amor em cada passo que
este desse.

E até hoje eles caminham juntos, onde quer que o Amor
esteja com ele estará Loucura, quase que fundidos numa
só essência. Tão unidos que por vezes não se consegue
definir onde termina o Amor e onde começa a Loucura.
E também por isso que usa-se dizer que o Amor é cego;
mas isso não é verdade, pois o Amor tem os olhos da Loucura.


Autor Desconhecido

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A defesa da grande floresta


Livre e despreocupado, andava o pequeno índio pela floresta. Tinha plena certeza de ser dono de toda aquela imensidão verde e da paz que reinava ali.
O canto dos pássaros era música para os seus ouvidos, o vento que envergava a mais alta árvore que pudesse existir ali, era o ar que respirava.
Na sua frente, uma linda aquarela de flores multicoloridas eram um colírio natural para os seus olhos. As águas da cachoeira que desciam rápidas até o lago, renovando-o a cada instante, eram as mesmas águas que lhe matava a sede.
A vida dos animais, em seu habitat natural, corria normalmente.
Vivia-se feliz naquele esplendor natural, cujo Criador só poderia ser um ser de muita luz.
Um dia, porém, andando tranquilo pelas matas, o indiozinho ouve um estranho barulho do qual não estava acostumado. Devagar, foi espreitando por entre as árvores e viu seres que jamais havia imaginado. Eram homens cujas peles eram brancas e pálidas como a seiva que brotava das veias das seringueiras existentes ali.
O indiozinho, temendo ser visto continuou escondido atrás das folhagens, observando o movimento daqueles seres assustadores.
Estavam preparando uma espécie de armadilha, rindo e bebendo muito, falavam do quanto iriam ganhar pela venda dos animais capturados.
O indiozinho, apesar de não conhecer muito bem a linguagem daqueles seres, conseguiu entender o que eles pretendiam.
Saiu sorrateiramente dali e foi ter com Acará, a grande ave branca que o levou até o fundo das matas, na morada do Pajé, o grande líder espiritual da tribo.
Chegando lá, o Pajé o recebeu com carinho e perguntou-lhe:
- O que o traz aqui, pequeno Curumim?
O indiozinho sentou-se ao lado do Pajé e narrou o que havia visto na floresta.
Mirando o indiozinho fixamente este exclamou:
- Pequeno Curumim, o mundo está repleto de Caris (homens brancos) que com monstros de ferros de finos dentes derrubam as nossas árvores, a terra se torna seca, cheia de buracos feios como mães desnutridas, sem poder amamentar os filhos porque não têm leite em seus seios. Com golpes, tão desumanos, os caris ceifam as vidas dos animais que aqui habitam. A Natureza, um dia, se revoltará contra esses seres e lhes mostrará a sua fúria.
O indiozinho, com os pequenos olhos arregalados, lágrimas brotando no canto de cada um deles pergunta ao Pajé:
- E esses caris vão destruir a nossa floresta e os nossos animais?
O Pajé, sempre paciente responde:
- Não, pequeno Curumim, essa noite, reunirei os deuses defensores da natureza e eles expulsarão daqui os malfeitores brancos que abalam a paz da floresta.
Dizendo isso, o Pajé, passa suas mãos com delicadeza, porém, firmes sob os olhos do indiozinho e seca as suas lágrimas.
O indiozinho adormece sereno no colo do Pajé.
Este pede a grande Ave Branca, que reúna todos os deuses defensores da natureza na floresta. Irá ter com eles para que, juntos, defendam a floresta.
Chegada à noite, o indiozinho abre os olhos, meio tonto, sem saber muito bem onde está, quando olha a sua frente, depara com a figura do Pajé, indo ao seu encontro.
O Pajé senta-se a sua frente e lhe diz:
- Pequeno Curumim, você irá comigo à reunião com os deuses para que possamos defender a nossa Mãe Natureza.
O indiozinho concorda com grande orgulho por ter sido escolhido para participar de tão importante evento.
O Pajé e o indiozinho, acomodados sob o dorso da grande Ave Branca, rumam ao centro da floresta onde encontram com:
- Oxossi, o rei das matas, protetor da floresta e dos animais, munido de seu arco e flecha, pronto para a batalha.
- Iansã a deusa da espada de fogo, dona das paixões, a rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais. Orixá do fogo, guerreira e poderosa.
- Oxum, a rainha de todos os rios e cachoeiras, deusa da fecundidade, dona do poder da adivinhação, a dona do grande poder feminino.
-Ogum, o temível guerreiro, violento e implacável, deus do ferro, armado com sua espada e capacete.
-Xangô, o rei das pedreiras, divindade do fogo, do trovão e da justiça. Xangô, temido e respeitado, viril e violento, porém justiceiro.
- Iemanjá, rainha das águas e mares. Muito respeitada e cultuada, conhecida como mãe de quase todos os Orixás.
-Exu, guardião dos caminhos, soldado dos Pretos-velhos e Caboclos, emissário entre os homens e os Orixás, lutador contra o mau, sempre de frente, sem medo, sem mandar recado.
E, finalmente, Oxalá, o detentor do poder procriador masculino. Oxalá , a criação, o começo do mundo, o princípio de tudo.
Assim reunidos, o Pajé relata aos Orixás, os deuses da natureza, o que estava ocorrendo na grande floresta.
O pequeno indiozinho tinha os pequenos olhos fixos em todos aqueles bravos guerreiros, extasiado com a oportunidade de estar frente a frente com todos eles. Ouvia atentamente os planos de defesa da Grande Mãe, absorvia cada palavra e cada gesto daqueles tão venerados Seres.
Terminada a reunião, chega o momento da grande batalha.
O Pajé leva o pequeno índio sentado sob o dorso da grande Ave Branca, até o topo da mais alta árvore da floresta de onde poderiam assistir ao desenrolar da grande batalha.
Havia muitos homens brancos, munidos de armas de fogo em volta de uma fogueira, conversando alto e rindo muito.
Oxum, com sua rara beleza se aproximou deles que, estonteados voltaram toda a atenção para ela.
Um dos homens brancos lhe perguntou:
- De onde surgiu tão bela dama perdida no meio dessa floresta sombria?
Oxum, aparentemente mansa, respondeu com delicadeza:
- Venho das águas da cachoeira que desce para os rios e corre até os mares.
Os caçadores riram da bela Oxum, talvez imaginando que fosse alguma espécie de louca perdida no meio da floresta.
Ao se aproximarem dela, Oxum levanta as suas mãos e o rio, atrás deles se revolta e alaga o acampamento, apagando o fogo que haviam feito.
Um dos caçadores, não entendendo o poder daquela mulher, tenta agarra-la pelos braços, quando surge Exu e logo atrás, Oxossi munido de seu arco e flechas acertando o peito do inimigo que vai ao chão.
Ogum, também aparece e com sua espada arremessa longe a arma de fogo que outro empunhava.
Iansã com seus trovões destrói o restante das armas, transformando-as em cinzas de ferro caídas ao chão.
Iemanjá dá ordens ao rio para alague e destrua todas as armadilhas ali construídas com a intenção de aprisionar os animais.
Nisso, Oxalá se aproxima, mira firme os olhos de cada um daqueles homens brancos, apavorados e diz:
- O homem, age contra a natureza, feroz e incontrolavelmente. A natureza, destemida faz o que pode para se defender para não ver a sua própria morte. Um dia chegará em que o homem judiará tanto dela que, a natureza se revoltará e rios inundarão as cidades, trovões destruirão pessoas, furacões e vendavais destruirão os lares, então, só aí o homem se arrependerá, mas será tarde, pois, a Mãe Natureza foi tão judiada que jamais cessará a sua vingança.
Os homens, sem ação, absorvendo a grande lição de Pai Oxalá, recuaram. Foram embora para nunca mais voltar àquela floresta.
Do alto do topo da grande árvore, o indiozinho, satisfeito com a vitória dos deuses em defesa da natureza, exclama:
- Estou satisfeito e agora, nunca mais teremos homens maus destruindo a nossa floresta.
O Pajé, rindo da inocência do pequeno curumim, passa a mão sobre seus ombros, num abraço forte e carinhoso. Os dois, sentados sob o dorso da grande Ave Branca, voltam para as suas ocas. O curumim, com sua inocência infantil, certo de que, nunca mais passarão por aquilo e o Pajé, com sua experiência de vida e sabedoria, esperando até o dia da próxima batalha.


FIM.